Nota sobre os casos de violência e estupro na ocupação da CMBH

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Lutemos junt@s para acabar com o machismo!



Nota do Movimento Mulheres em Luta e da ANEL (Assembleia Nacional dos Estudantes Livre) - Minas Gerais

Os últimos casos de machismo ocorridos na última ocupação da Câmara Municipal de Belo Horizonte chocaram um setor importante do ativismo e, inclusive, da população em geral, visto que foram amplamente noticiados pela grande mídia.

Algumas ativistas relataram ter sofrido diversos tipos de violência, envolvendo abusos sexuais e até mesmo um caso de estupro.

Consideramos que esses foram episódios lamentáveis e repugnantes ocorridos durante um capítulo tão bonito da história de nosso país, quando milhares de jovens e trabalhadores se mobilizam de diversas formas para transformar a sociedade.

A transformação da sociedade é condição fundamental para a superação do machismo tão arraigado em nossos comportamentos e valores. A desigualdade entre homens e mulheres está longe de ser coisa do passado e ainda são muitos os casos de violência contra a mulher. Os casos de estupro cresceram 157% entre 2009 e 2012, e Belo Horizonte é campeã em violência machista entre as capitais da região sudeste.

Ao mesmo tempo, a organização e participação das mulheres nos processos de luta de classes são condições essenciais para que a mudança que queremos possa ocorrer. Sem as participação das mulheres, que são metade da classe trabalhadora e da juventude, não há qualquer transformação possível. Sabemos como é difícil para uma mulher romper com os papeis socialmente estabelecidos para ela e com as barreiras concretas de sua vida para poder ter uma participação política efetiva. Não somos criadas para falar em público ou protagonizar lutas. Realizamos mais trabalho doméstico do que os homens e ainda somos as principais responsáveis pelo cuidado dos filhos e da casa. Por isso, qualquer mulher que tenha a ousadia de superar essa condição e se colocar na luta tem um valor inestimável para um movimento social.

Entretanto, infelizmente ainda é forte o machismo entre nós, lutadoras e lutadores de diversas frentes. Começar a combatê-lo significa compreender sobretudo que o machismo nos divide e nos enfraquece, por isso, ele só serve a quem mais queremos destruir: a burguesia e seus agentes dos diversos governos. Por isso, a opressão e a violência sofridas pelas companheiras da Ocupação precisam ser repudiadas por todas as lutadoras e lutadores de nossa cidade. Queremos e precisamos de cada vez mais mulheres nas lutas, sendo linha de frente dos movimentos, e não que diversas lutadoras sejam afastadas e assustadas por ações machistas daqueles que deveriam ser seus companheiros de luta!

Repudiamos também o uso que a imprensa tradicional fez do caso, que foi divulgado por diversos veículos de forma desonesta e mentirosa, cumprindo unicamente o papel de deslegitimar e criminalizar a ocupação.

Lamentamos também a reação de alguns ativistas que se colocaram na defesa direta do estuprador e se puseram a questionar a vítima. Essa não é a atitude correta frente a casos como esse. Qualquer indivíduo que se proponha a ser sujeito da transformação social deve se colocar, em primeiro lugar, do lado do oprimido. A solidariedade e a unidade para combater a opressão machista devem ser princípios de nosso movimento. Recuar nesse princípio significa dar espaço ao mesmo discurso opressor utilizado pela classe dominante, que põe em dúvida e criminaliza antes de tudo o oprimido, o violentado, fazendo com que se cale por falta de forças, apoio e provas.

Por fim, queremos dizer que a atitude das mulheres que se auto-organizaram para expulsar o agressor da ocupação é algo louvável e necessário, que deve servir de exemplo para todas nós.

Devemos nos espelhar nas mulheres da Índia do Gang Gulabi, o exército do sari rosa que faz a luta direta contra agressores de mulheres, diante da ineficiência e omissão dos governos. Enquanto o machismo existir e nos violentar cotidianamente, precisamos que em cada local de trabalho ou estudo, em cada bairro, vila ou favela, as mulheres trabalhadoras sejam solidárias umas com as outras e cuidem de sua segurança, se auto-organizando para constranger e lutar contra agressores, estupradores ou espancadores.

Assim, com essa nota dos colocamos na defesa incondicional das mulheres lutadoras, nos solidarizamos com as vítimas dos casos relatados e depositamos nossa confiança na unidade entre lutadoras e lutadores, para combater o machismo.


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